domingo, 18 de abril de 2010

Cama de gato

Do lado de fora do quarto ainda existiam alguns ecos de toda aquela euforia. É engraçado ver como a graça é um dos pontos mais em comuns entre elas. Uma única sinfonia alegre. Longe alguém notaria a diversidade de sentimentos extremados.
Enquanto a melodia sistematizava a distração de todas, ela também abria a porta pra cada pensamento próprio. Dali, sim, depois de alguns minutos adentro, perceberíamos que aqueles rostos rosados maquiados devidamente de acordo com o viver, traziam uma série de dúvidas sobre o amanhã.
Pra que eu possa continuar, os senhores leitores interessados necessitam tomar parte de todo esse emaranhado de possíveis almas amantes.
Cabelos longos que ornavam com a tonalidade de sua pele. Trazia junto a si alguns acontecimentos sobre o ontem que de fato abrem caminho pra um diálogo despojado, interessante. Seu olhar de sonhadora limitava-se talvez por não acreditar tanto no amanhã, entretanto, me surpreendia a cada nova atitude de que lhe fazia mulher capaz de despedaçar qualquer parede que a impossibilitaria de crescer ou até então amar. Essa era Lina, que deitada sobre um colchão já usado pelas outras companheiras, despontava uma série de carícias sobre Nathália, que no momento encontrava-se acolhida no regaço de teu ventre.
Ao lado dessa menina-mulher, encontrava-se Thaís. Os senhores leitores devem ficar cientes de que ao longo dessa trama a abordarei como koka, um apelido que dizia muito sobre a pessoa em questão. Koka é uma pessoa alegre, que pintava no presente algumas boas gargalhadas a serem tiradas no amanhã. Era difícil vê-la reunida com as outras garotas. Gostava de ficar sozinha em seu quarto e até em certos momentos distraia-se com qualquer lembrança. Era uma menina-mulher, definitivamente. Apesar de ser uma pessoa alegre extrovertida, por dentro apresentava-se fria, ríspida. Um tipo de casulo protetor que a impedia de qualquer sentimento remoto. Talvez fosse um grande medo de dar o coração a tapa. Já carregava várias cicatrizes que a fizeram assim, calculista. Todavia, deve-se lembrar que o passado sempre permanecerá no instinto, e por isso, tinha tanta gente querida ao seu redor. Encantadora e fria, é uma notável pessoa, apesar de pequena.
É necessário que haja um grande conhecimento sobre olhares para que você consiga enxergar a alma de uma pessoa. Entretanto, a personagem em questão trazia consigo um olhar intrigante, e por isso, de difícil leitura. Não só por ser mestiça e carregar este encanto que é a miscigenação, mas também por ser quase impossível le-lo. Seu efêmero sorriso desmontava qualquer tentativa de escapatória desse entregar-se que ela nos submetia. Assim como koka, demonstrava-se firme mediante aos amores, mas por dentro tua alma que em fogo penava já planejava um futuro encontro. Se não bastasse, sua seriedade era evidente diante dos problemas. Conseguia resolver tudo com a espontaneidade de um diálogo de semáforo. Não que trazia consigo falas decoradas, mas por responder tudo de acordo com suas vontades e desejos. O que difere em tudo isso, é que suas vontades eram sempre feitas, mas seus desejos trazia o suor de quem luta pelo o que quer. Era uma mulher fascinante de se admirar. Se fossemos levar em conta as regras do livro do pequeno príncipe “Tu és responsável por tudo aquilo que cativas” teria que ter pelo menos mais três horas a mais no dia pra se responsabilizar pelos ditos encantados, já que resolvia tudo o que estava ao seu alcance. Fora isso, era uma muher como todas as outras ali deitadas, bonita e integra.
Para completar nossa gama de mulheres, lembremos de citar sobre Nathália. Era um menina completamente diferente de todas as outras. Enquanto algumas aparentavam ser mais rígidas e frias, a personagem em questão exibia a frente de tudo o seu coração quase que totalmente dilacerado de tanto ser usado como amadura. Não que seja sua vontade, mas envoltos por um mundo completamente fora de foco, de tempos em tempos, constroem-se pessoas assim, com o coração tão delicado que trás o sorriso dos românticos e o cinismo dos modernos. Podemos denominar sim sarcasmo, o uso dos sentimentos como proteção. Sabe que vai se machucar, e mesmo assim ousa, tenta, luta. Apesar de todo esse rótulo, é uma pessoa entregue. Entregue a qualquer risada, qualquer brisa, qualquer momento. De vero não é todo minuto que sofremos por amores, e por exibir o íntimo a frente, desfrutava de certos viveres como ninguém conseguiria desfrutar. Talvez devêssemos nos inspirar nesse enredo parnasiano de viver por viver, amar por amar, querer por querer; talvez seja a solução de todo esse gelo que parece inextirpável dos corações daqueles que um dia sofreram. Era conhecida na sua cidade por causa de sua orientação sexual um pouco a frente, nada que as outras personagens não possuam também. Afinal, o mundo hoje nos oferece várias opções, neste caso, duas.

Por: Alan Rodrigo Rocha